Paulo Drumond fala sobre a volta ao trabalho em época de pandemia

Paulo Drumond
Foto: Divulgação

O ator Paulo Drumond, foi um dos muitos que tiveram seus projetos afetados pela pandemia. Afinal, sabemos que a covid-19 paralisou quase todos os setores de economia e entretenimento do mundo, para que tentassem conter o avanço da doença.

Paulo Drumond é ator, dramaturgo, diretor e escritor. Licenciado em Filosofia. Co-Fundador da Cia. Lúdica, onde desenvolve as suas dramaturgias, atuações e direções.

Atuou em: A Utopia na Era da Incerteza, Vegan VJ Theatre; Deolindo e Genoveva, A Poesia Secreta de Andréia, A Aula, na Cia. Lúdica; Besame Mucho, de Mario Prata, dir. Roberto Lage; Minha Nossa, texto e direção de Carlos Alberto Sofredini; O Duelo, de Bernardo Santareno, dir. Roberto Vignati; Rua 10, de Néri Gomide, com dir. Fauzi Arap; A Lira Dos Vinte Anos; de Paulo César Coutinho, dir. de Silnei Siqueira; Vida De Artista, autoria e dir. Paulo César Coutinho; Romaria, de Miroel Silveira, dir. Emílio Fontana; Cordélia Brasil, de Antônio Bivar, dir. Wilma de Souza; Rosa de Luxemburgo, autoria e dir. Dulce Muniz; A Super Flor (Grupo Teatro do Sol), de Walter Quaglia, dir. Silnei Siqueira.

Foi integrante do Grupo de Teatro Mambembe e fundou, juntamente com os outros integrantes do grupo, o Espaço Mambembe.

Nós do News On Demand, conversamos com ele para entender um pouco de como ele lidou com a pandemia e o isolamento social.

Confira a entrevista com Paulo Drumond abaixo

Foto: Divulgação

News On Demand: Paulo, muito obrigada por esse bate papo. Conta pra gente como foi ficar tanto tempo afastado e como é voltar aos palcos após tanto tempo longe por conta da pandemia?

Paulo Drumond: Foi uma sensação muito estranha quando começamos a quarentena em razão da pandemia. Aos poucos fomos percebendo as limitações que essa nova realidade ia nos impondo. Eu, por exemplo, estava a 3 dias de iniciar a nova produção, que seria um espetáculo presencial que a princípio seria realizado nos jardins da Casa das Rosas. Quando tudo interrompeu, continuei fazendo o treinamento de preparação para o espetáculo que já havia iniciado em fevereiro de 2019. Um treinamento muito dedicado preparado pela diretora do espetáculo, a Marcya Harco. A cada dia da quarentena ia me surpreendendo com novas constatações que observava.

Quando acaba? Será que acaba? E o trabalho? Vivo apenas do teatro! E agora? E esse vírus? O quanto é grave?

Paulo Drumond

Enquanto continuava o treinamento, aguardando a volta logo, pois tínhamos prazos também para realizar o trabalho, que havia sido contemplado no ProAC Editais. Confesso que senti um calafrio e, ao mesmo tempo um alívio, pois se já tivéssemos feito a produção do espetáculo presencial previsto naquele momento estaríamos em uma situação complicada, pois isso significaria que já tínhamos usado a verba de produção do programa, e isso não teria como ser reposto, ao mesmo tempo que não havia como continuar o processo na pandemia.

O alívio veio daí: os recursos ainda não tinham sido usados. O negócio então era aguardar. Além dos estudos e treinamento comecei a fazer uma live com leitura de poesia todo os dias no meu perfil do facebook. Fiz durante 100 dias! Nesse momento recebemos da Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo a informação de que eles estavam estudando propostas de espetáculos aprovados nos editais, para serem transformados em virtuais, se assim os ganhadores desejassem. Foi uma bela decisão que ajudou a muitos projetos. Pois nos colocou de novo na possibilidade de dar continuidade no nosso trabalho. Fizemos a nossa proposta que foi aceita e foi dessa forma que conseguimos realizar esse espetáculo O Cão de Kafka. Isso nos tirou da imensa estupefação diante da triste realidade que é essa da pandemia. Triste, mas inevitável. A volta, então, foi no palco virtual.

Interação com o público

NOD: Mais do que voltar aos palcos, como é participar de uma peça onde o público pode interagir e de certa forma alterar os rumos da peça? Mesmo que isso acontece apenas digitalmente, para quem assiste a peça a distância.

Paulo Drumond: Eu jamais tinha pensado em fazer um monólogo na minha vida. Esse foi um desafio me proposto pela Marcya Harco, que além de dirigir, havia concebido o projeto. Junto conosco estavam também a Tatiana Travisani e o Deco N. que são os diretores da Emergência Cuadrante e responsáveis por todo o suporte audiovisual do espetáculo. Quando o projeto foi transformado em virtual, eles organizaram uma equipe maravilhosa, com todos os profissionais dedicados e muito parceiros, entre eles o Ivan Ferrer, o Andy Barac e o Alexandre Marino, para a construção desse desafio, que foi fazer as duas versões: virtual e interativa. Olha, sobre as versões, o que podemos dizer são as manifestações que estamos recebendo do público. São sensacionais e muito gratificante. Está valendo demais todo o esforço e estudo empenhados!

NOD: Além de profissionalmente, como a pandemia mais afetou a sua vida?

PD: De um certo modo, eu há muito tempo vivo mais recolhido, dedicado apenas ao meu trabalho no teatro, à minha companheira, meus filhos, família e a alguns amigos mais próximos. Nesse sentido não me foi difícil encarar a pandemia. Mas viajar para ver a minha mãe, meus irmãos e filhos ainda não está sendo possível. O negócio então é matar a saudade pela telinha do computador!

NOD: Pode adiantar algum projeto futuro para a gente?

PD: Vamos lançar em breve uma versão gravada de um outro espetáculo que já tínhamos feito de modo presencial: A Poesia Secreta de Andreia.

Recado para os fãs

NOD: Gostaria de deixar algum recado para os seus fãs e para os leitores, sobre esse momento que estamos vivenciando há tanto tempo já? Mais uma vez obrigada.

Paulo Drumond: que eu gostaria de dizer para todo mundo é que busquem um suporte na arte, para viver em qualquer tempo. Fruindo e fazendo arte. Frederico Garcia Lorca dizia que a arte era um bem que todos deveriam buscar. Os livros, os filmes, as músicas, os espetáculos e todas as artes são voltadas, são dedicadas, são generosamente ofertadas pelos seus criadores a todos nós, seres da terra. O tempo de viver é esse agora.

É agora que precisamos buscar o nosso bem-estar. Ouvir a boa música, caminhar de mãos dadas com nós mesmos, cuidar das nossas emoções, expressar os nossos sentimentos, valorizar o nosso gostar e assim também, exercermos a nossa empatia pelo outro. Pelo ser do outro. Mesmo nesses tempos, mesmo nesse mundo tão difícil de viver, em que a grande maioria só consegue sobreviver, fazer qualquer forma de arte propicia um estado de existência do seu ser, um estado além da sobrevivência.