Não possuir o Código de Endereçamento Postal tem um impacto social cotidiano considerável na vida de milhões de brasileiros. De acordo com o Data Favela e o Instituto Locomotiva – pesquisa Economia das Favelas: Renda e Consumo nas Favelas Brasileiras (2020) –, cerca de 36,2 milhões de moradores de comunidades e regiões periféricas têm restrições de entrega. Ou seja, não recebem as compras feitas nos locais onde residem; esse contingente representa quase 20% da população nacional.
Com o CEP, os brasileiros têm acesso a serviços para além da identificação do local de moradia, já que o código está associado à cidadania e ao pertencimento. Com ele, o cidadão pode abrir conta bancária (inclusão financeira), tirar título de eleitor (inclusão na vida política do país), acessar serviços de telefonia e políticas públicas de saúde, receber produtos e serviços. A ausência de endereço formal é um fator de exclusão. A qualificação “área de risco”, usada para classificar muitos dos territórios sem o CEP, aprofunda a desigualdade ao incluir um elemento: o preconceito.
Para alterar esse cenário, a logtech social naPorta – utilizando os Plus Codes, tecnologia de código aberto desenvolvida pelo Google e integrada ao Google Maps – anuncia que as Favelas dos Sonhos e de Itaprata, na região de Ferraz de Vasconcelos (São Paulo), passam a ter 100% dos endereços mapeados digitalmente para 350 residências. A iniciativa contou com a parceria do Google (tecnologia), Gerando Falcões (via Favela 3D, que identificou todos os moradores e os locais para aplicação das placas), Artemisia e Fundação Grupo Volkswagen (apoio na implementação do endereço virtual e no desenvolvimento do negócio por meio do programa de inovação aberta ImpactaMOB).
Jaqueline de Fátima Silva – moradora há uma década da Favela dos Sonhos e uma das beneficiadas pelo endereçamento virtual – comemora o fato de poder receber, pela primeira vez, as compras feitas pela internet no próprio endereço. “Eu tinha que dar o endereço da minha cunhada para poder receber meus produtos; aí, precisava ligar para ela, avisando, e ir até uma outra comunidade buscar. Hoje, não preciso mais, porque eu tenho o meu próprio endereço”, afirma.
Sanderson Pajeú
Sanderson Pajeú é um dos fundadores da naPorta e que cresceu na comunidade do Itaim Paulista (zona leste de São Paulo) – detalha que essa inclusão social foi mediada pelo uso de uma tecnologia que permite converter as coordenadas de latitude e longitude, normalmente informadas nos GPS para localizar endereços, em Plus Codes, que são códigos curtos semelhantes aos códigos postais.
“Hoje, a maior dificuldade dos brasileiros que não têm CEP é ter acesso a serviços básicos que os que moram no asfalto possuem. Estou falando de entregas de e-commerce, remédios, alimentação e até serviços essenciais como água e saneamento. Com os endereços digitais, os moradores da Favela dos Sonhos podem informar o código e ter acesso a qualquer serviço compatível com essa tecnologia”, detalha o executivo. Acrescentando que o time responsável pela operação é formado por pessoas da própria comunidade, que foram contratadas. Na prática, um impacto de inclusão produtiva que faz a economia local ser fomentada.
Dentro da implementação, moradores dos territórios são capacitados como mapeadores – utilizando o Address Maker, tecnologia e processo para mapeamento desenvolvidos pelo Google, identificando as vias e moradias nas comunidades. A naPorta, como licenciada dessa tecnologia, é responsável por todo o mapeamento, a validação, o check de qualidade e a replicação de novos mapeadores. Após a identificação e a criação correta dos endereços, os moradores das comunidades já podem utilizar o novo endereço para receber as suas encomendas adquiridas em clientes-parceiros da naPorta, sem ter que pagar nada mais por isso. Com isso, os moradores poderão ter acesso a serviços com a mesma qualidade e eficiência que os moradores das zonas urbanas.
Para além das entregas
O mapeamento digital dentro de favelas e periferias sem serviços convencionais de entrega é apenas uma das facetas do trabalho desenvolvido pela empresa. Fundada em 2021 por Sanderson Pajeú, Leonardo Medeiros, Rodrigo Yanez e Katrine Scomparin, na cidade de São Paulo, a empresa começou sua operação alinhada ao modelo Last Mile, atuando em áreas com dificuldade de acesso. Hoje, atua com uma nova logística nessas regiões, entregando de tudo, para todos. A naPorta é um Logistic as a Service que oferece uma solução completa para os clientes: do Cross Docking, Last Mile, Middle Mile e Reversa até a entrega agendada no ponto de retirada – tudo isso com tecnologia de ponta a ponta. Um dos propósitos dos sócios é viabilizar as entregas das compras on-line feitas pelos moradores das comunidades e em regiões com restrição.
Na essência, a empresa insere comunidades de São Paulo e Rio de Janeiro no mapa do e-commerce, conectando moradores de territórios ao mundo digital; empoderando residentes, empreendedores e compradores dentro das favelas e periferias; e diminuindo o abismo social entre regiões menos urbanizadas e o asfalto. Com o endereço virtual, além das entregas de e-commerce, o negócio de impacto social leva cidadania para os moradores e amplia o acesso a outros serviços.
Um impacto destacado pelo empreendedor é o ambiental. De acordo com Sanderson Pajeú, 80% dos entregadores da naPorta utilizam bicicleta, sem emissão de carbono. Por meio de parcerias – com a Trek, por exemplo –, a empresa implementou bikes elétricas em algumas de suas operações. Os empreendedores já abriram conversas, também, sobre a venda de crédito de carbono como forma de renda extra para os entregadores. Já no que tange ao impacto social, o negócio conta com a capacitação e contratação de 53 profissionais das próprias comunidades.
Em 2022, realizou mais de 60 mil entregas e partir do ano que vem, a expectativa é contratar mais 40 pessoas para atender ao fluxo de pedidos. “Estamos, ainda, desenvolvendo quatro líderes operacionais que residem nas comunidades. Atualmente, operamos em seis bases locais, sendo que quatro são estruturas da própria comunidade. Com isso, impactamos positivamente a economia local, pois esses espaços são alugados. Além disso, já injetamos R$ 300 mil nas comunidades em menos de 11 meses de atuação via pagamento aos entregadores, contratação de agências de marketing local e influenciadores”, afirma.
O que vem pela frente
Sobre a visão de futuro, Pajeú afirma que o objetivo é chegar a todas as regiões do Brasil com a solução para reduzir o abismo social vivenciado pelos cidadãos que não possuem endereço. “Na essência, geramos renda, empoderamos e desenvolvemos as comunidades nas quais atuamos. Temos por objetivo crescer em 2023 e 2024, estando presentes em mais de 100 comunidades; faremos isso por meio do aumento de clientes – já conquistamos sete novos clientes neste ano e já temos um pipeline de mais quatro clientes, iniciando no próximo ano – e chegaremos aos territórios por meio da nossa parceria com Gerando Falcões”, finaliza, acrescentando que a tecnologia desenvolvida tem um enorme potencial de uso via parcerias com empresas de internet, telefonia e, também, com o poder público.
Com a atuação, a naPorta ilustra bem o potencial de transformação gerado pelos negócios de impacto social. A partir do propósito de levar cidadania por meio do endereço virtual, os empreendedores abrem uma porta para que os moradores de favelas e áreas periféricas sem identificação formal tenham acesso a outros serviços essenciais que, sem o código de endereçamento postal, não poderiam contratar. Na essência, a solução trazida naPorta mira a ampliação de acesso e inclusão dos cidadãos.
ARTEMISIA | A Artemisia, organização pioneira no apoio a negócios de impacto no Brasil, tem como missão potencializar negócios que criam soluções para a resolução de problemas sociais ou ambientais e que promovem impacto positivo por meio da atividade principal. Para isso, lidera iniciativas de fortalecimento voltado a negócios de impacto – via programas de aceleração, apoio em pilotos de inovação aberta e articulação de investimento de impacto –; conecta grandes empresas ao universo dos negócios de impacto; e desenvolve conhecimentos sobre o tema. Fundada em 2005, possui atuação nacional e já impulsionou mais de 700 negócios de impacto de todo o Brasil em seus diferentes programas. Nos últimos dois anos, mais de 2 milhões de pessoas foram beneficiadas pelos negócios apoiados pela Artemisia. www.artemisia.org.br
NAPORTA | Fundada em 2021 por Sanderson Pajeú, Leonardo Medeiros, Rodrigo Yanez e Katrine Scomparin, naPorta iniciou sua operação alinhada ao modelo Last Mile, atuando em áreas com dificuldade de acesso. Hoje, atua com uma nova logística nessas regiões, entregando de tudo, para todos. A naPorta é um Logistic as a Service que oferece uma solução completa para os clientes: do Cross Docking, Last Mile, Middle Mile e Reversa até a entrega agendada no ponto de retirada – tudo isso com tecnologia de ponta a ponta.
O negócio de impacto social está alinhado à missão de democratizar o processo de entregas, aportando conveniência e digitalização para todos, independentemente da região na qual a pessoa reside. O propósito dos sócios é viabilizar as entregas das compras on-line feitas pelos moradores das comunidades e regiões com restrição. Na essência, a empresa insere comunidades de São Paulo e Rio de Janeiro no mapa do e-commerce, conectando moradores de territórios ao mundo digital; empoderando residentes, empreendedores e compradores dentro das favelas e periferias; e diminuindo o abismo social entre regiões menos urbanizadas e o asfalto. Entre os clientes e projetos: Riachuelo, Renner, iFood, Mercado Livre, C&A, Prezunic, Pet Love entre outras marcas https://naporta.digital/.
*Esse texto foi gentilmente cedido pela assessoria de imprensa